"Acompanhar
a política brasileira é tão legal quanto passear num lixão atômico (...) Além
do empobrecimento material, a contaminação envenena a cultura. Cinema, música,
literatura e artes plásticas andam entorpecidos. Silêncio e renúncia são
subprodutos da ruína atômica que Brasília erige" (Mario Sergio Conti, na
Folha).
***
Foi
tudo muito rápido.
Num
outro sábado, um ano atrás, Lula era carregado pela multidão em frente ao Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC, onde tudo começou.
No
mesmo dia, foi levado pela Polícia Federal para a cadeia de Sergio Moro em
Curitiba.
Hoje,
caminhamos sobre os escombros da ruína atômica do bolsonarismo, que em apenas
três meses vilipendiou, prostituiu e destruiu o país.
Em
menos de 100 dias, a boçalidade da nova ordem transformou o Brasil numa
republiqueta de bananas.
Cumprida
sua missão de condenar e tirar Lula da campanha eleitoral, Moro virou ministro
da Justiça do capitão Bolsonaro e seus generais, eleito por 57 milhões de
bolsonarinhos.
Voltamos
ao Mapa da Fome, somos ridicularizados mundo afora, 17 milhões voltaram para a
extrema miséria, o desemprego galopa e tchutchucas ultraliberais só falam em
acabar com a Previdência Social.
Educação
e Cultura estão em colapso, a Amazônia e o pré-sal vão sendo rifados, as
estradas foram abandonadas, as conquistas sociais dos últimos anos estão sendo
detonadas uma a uma, sem piedade.
Nulidades
e figuras exóticas tomaram conta do Palácio do Planalto e da Esplanada dos
Ministérios, a violência ficou fora de qualquer controle.
Confinado
numa cela solitária da carceragem da Polícia Federal e proibido pelo STF até de
dar entrevistas, Lula resiste a tudo e continua lutando, em todas as instâncias
da Justiça, por seus direitos básicos de cidadania.
Pensar
que apenas um ano atrás o Brasil voltava a ter esperança nas eleições, com
Lula, mesmo condenado sem provas e preso, liderando todas as pesquisas,
registrando o dobro das intenções de voto no capitão.
Quarenta
anos atrás, eu também tinha muita esperança quando fui escalado por Mino Carta
para seguir esse tal de Lula, a nova liderança que surgia nas lutas dos
metalúrgicos do ABC.
A
primeira vez que vi a cara dele foi na capa da revista IstoÉ, dirigida pelo
Mino, que me foi enviada à Alemanha onde eu era correspondente do Jornal do
Brasil.
"Presta
muita atenção neste cara porque você ainda vai ouvir falar muito dele quando
voltar ao Brasil", escreveu o profético amigo num bilhete.
Só
não poderia imaginar que minha vida, e a do país, ficariam tão embicadas com a
dele, depois que nos tornamos amigos nas históricas greves dos metalúrgicos.
Por
isso, não me conformo até hoje em ver Lula preso, logo ele que nunca ligou nem
falava de dinheiro, não tinha ambições materiais e só vivia para a política.
Como
assessor de imprensa em três campanhas eleitorais, disputadas em dois turnos,
dei várias voltas pelo Brasil ao lado do candidato e nunca vi nada que o
desabonasse.
Depois,
quando venceu em 2002, fui com ele para Brasília como Secretário de Imprensa da
Presidência, passamos muitos fins de semana juntos, no Alvorada e no Torto, e
quando fui embora, dois anos depois, Lula até chorou no discurso de despedida.
Eu também.
Nossas
famílias ficaram muito amigas, mas após ele deixar o governo nos vimos poucas
vezes.
Por
não ter mais condições de viajar, ainda não pude visitá-lo na prisão. Não é
difícil imaginar o que está passando, logo ele que passou a vida toda cercado
de gente e falando sem parar.
Passou
apenas um ano desde que nos despedimos no sindicato, na véspera da sua prisão
e, no entanto, parece uma eternidade pelo tanto que nosso país já mudou.
O
estrangeiro que tivesse visitado o país durante seu governo e voltasse agora
não iria mais reconhecer o Brasil e seu povo.
Junto
com Lula, prenderam nossos sonhos, o orgulho de sermos brasileiros, a alegria
de viver e de ter esperanças num futuro melhor.
Como
é possível tratar como coisa normal, parte da paisagem, o encarceramento do
melhor presidente que nosso país já teve, segundo todas as pesquisas?
Sem
poder receber visitar nos fins de semana, Lula vai amargar sozinho neste
domingo o primeiro ano da enorme injustiça que se comete com um dos maiores
líderes mundiais do seu tempo.
Não
prenderam só o meu amigo, mas o líder de milhões de brasileiros que saíram da
pobreza e da miséria e viraram cidadãos nos seus oito anos de governo.
Foi
esse o seu grande crime.
Passamos
a ser respeitados ao viajar para fora, o Brasil era um dos países mais
admirados do mundo, tinham até inveja da nossa forma de viver.
Acompanhei
Lula em 26 viagens ao exterior e sou testemunha da forma carinhosa e respeitosa
como era recebido em todos os lugares, nas ruas e nos palácios, contando
orgulhoso as profundas transformações que estavam acontecendo no Brasil.
Viraram
o país de cabeça para baixo, tuitando adoidados, passando por cima de direitos,
exterminando a sociedade civilizada que aqui foi construída.
Nenhum
inimigo estrangeiro, que não temos, seria capaz de fazer tanto estrago em tão
pouco tempo.
Vou
parando por aqui porque para mim é muito sofrido escrever este texto sobre o
que foi e é agora o Brasil, sobre o que já fomos e o que somos hoje.
Valeu,
velho amigo Lula. Muita força nessa hora.
Por
mais escura que seja a noite, uma hora há de clarear o dia.
Vida
que segue.
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