quinta-feira, 19 de maio de 2011

A DONA DO MUNDO

Era hora da minha caminhada diária ao entardecer. Eu vinha subindo a Rua Venâncio Aires, quase na esquina com a Floriano Peixoto, quando repentinamente uma menina de uns quatro anos no máximo, atravessou a rua correndo. O que me chamou a atenção foi o fato de que ela trazia estampado no rosto um largo e inocente sorriso, parecendo carregar por dentro uma alegria tão grande que mal cabia em seu corpinho franzino.

Curioso, diminui o passo e fingi estar olhando uma vitrine para tentar entender o que estava acontecendo. Percebi então, que ao atravessar perigosamente a rua, a menina corria na direção de uma mulher sofrida e maltrapilha que estava do outro lado, sentada no degrau de uma casa junto a algumas sacolas que certamente continham todos os seus pertences. Ao chegar perto daquela que deveria ser sua mãe, a garota falou alegremente: “o homem disse que nós podemos comer depois da uma hora da madrugada”. Ficou evidente que a menina havia ido até o restaurante que existe do outro lado e pedido algum alimento, tendo recebido a resposta de que elas poderiam no final da noite, buscar as eventuais sobras de comida que não tivessem sido consumidas pelos fregueses habituais.



A mãe com um ar cansado e envergonhado pegou a filha pela mão e de cabeça baixa, saiu caminhando vagarosamente como se carregasse sobre as costas todas as mazelas do mundo. A menina, ao contrário, sem ter ainda a noção exata de tais desditas, a acompanhava, levando no semblante aquela felicidade de quem já estava tentando adivinhar qual seria o menu que lhe apresentariam no jantar.

A cena me marcou profundamente. Eu fiquei imaginando aquela criança em sua inocência, sentindo-se como se fosse dona do mundo e acreditando que a cidade é o seu castelo. Um daqueles castelos tão grandes que ela chega a cansar de andar por dentro dele sem nunca conseguir conhecer todos os seus aposentos. Ah, e aquele e outros tantos homens para os quais ela pede comida, são os seus cozinheiros e mordomos sempre prontos a atenderem todos os seus mínimos desejos, enquanto que os vários restaurantes são as suas cozinhas particulares. Seu quarto de dormir é tão vasto que ela não possui uma cama convencional. Na verdade, ela dorme em qualquer local onde possa estender algum dos cobertores surrados que a mãe carrega em uma das suas sacolas. Ela se sente uma privilegiada de adormecer olhando as estrelas e sonhando com os locais que irá percorrer no dia seguinte, pois, como dona do mundo que é, precisa conhecer todos os seus domínios.


Que pena menina. Infelizmente vais crescer e um dia, como que acordando de um sonho bom, irás te deparar com as misérias e maldades do mundo. Terás uma grande desilusão ao perceberes que os seres humanos não são os anjos de bondade que tu achavas que eram. Que na verdade, eles criaram um mundo em que alguns poucos são privilegiados e a grande maioria, vive para manter os privilégios destes poucos. E que existe ainda, uma derradeira classe de pessoas que nada têm, que sequer possuem um lugar para dormir ou um prato de comida para comer, precisando se humilhar e esperar pela benevolência de alguém para continuarem sobrevivendo. E que dentre estas pessoas tu estás incluída.

Irás perceber então que não eras a dona do mundo mas sim, uma espécie de pária da sociedade, destas que ficam enfeando a cidade e causando receio nas pessoas que passam rapidamente sem sequer lhe pousar os olhos, ainda que por alguns segundos.

De qualquer maneira, enquanto não despertares, segue sonhando menina. Aproveita estes tempos de inocência para andares alegre pelos corredores da tua mansão, sempre perguntando aos teus fiéis mordomos qual o horário em que eles irão te servir o jantar.

Só uma coisa te peço menina. Quando acordares do sonho e te deparares com tua triste realidade, por favor, não te desesperes. Não sucumbas como fazem tantas outras pessoas em tua situação. Se afinal, não és a dona do mundo, conquistes ao menos uma parte dele e se estiveres insatisfeita com a cara com que ele se lhe apresenta agora, reconstrua-o de acordo com os teus desígnios. Não percas a esperança jamais e tentes concretizar no futuro, os sonhos que hoje tu carregas no brilho destes teus olhos inocentes. Um brilho tão intenso que deixou uma marca indelével em minha alma, servindo ainda hoje como uma espécie de estrela-guia a me conduzir na minha eterna caminhada em busca da tão almejada solidariedade entre os seres humanos.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS

Postado no site Web Artigos

http://www.webartigos.com/articles/64712/1/A-DONA-DO-MUNDO/pagina1.html







sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

TRIBUTO À SILVIE JANIS JOBIM


Foram duas formaturas em menos de um ano. Ela é mesmo uma lutadora que nos surpreende a cada dia. Na mais recente, formou-se DESIGNER no curso da Unifra, embora ela já tenha nascido artista. Tem um talento natural para a arte que agora, somado ao conhecimento formal, acaba resultando em uma mistura imbatível.

Parabéns à minha filha Silvie Janis Mossate Jobim. Ela é uma inundação de criatividade jogada no planeta, tão necessitado de pessoas assim, combativas e com poder de transformar tudo para melhor.

Para homenageá-la, eu coloquei meus dois neurônios em funcionamento, desenferrujei os dedos, fiz alguns exercícios vocais (cadê a minha voz?) e compus uma música denominada Tributo à Silvie Janis. Peguei meu velho violão já fora de escala e gravei em um programa caseiro. A qualidade é baixa mas dá para ter uma idéia da canção.

TRIBUTO À SILVIE JANIS



Jorge André Irion Jobim

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

UM BALDE D´ÁGUA


Econsciência

Observando a grande quantidade de água tratada que se perdia pelo ralo do banheiro enquanto eu tomava banho, foi que me veio a idéia de colocar debaixo de meus pés uma bacia para recolher aquela água que eu passei a guardar em um balde e a utilizar posteriormente para lavar o vaso sanitário.

A idéia pegou e logo toda a minha família aderiu a ela. Hoje mantemos sempre dentro do banheiro, não um, mas vários baldes nos quais vamos armazenando aquela água já utilizada. Como consequência, podemos afirmar que há mais de dois anos não puxamos a cordinha da descarga do vaso, o que faz com que deixemos de jogar fora uma grande quantidade de água que poderá servir para outras finalidades mais nobres que não a de limpar dejetos humanos.

Segundo pude me informar, a cada descarga que damos, no mínimo são desperdiçados seis litros de água potável. Segundo as normas brasileiras que regulamentam o tema, até o fim de 1999, era admitido que as bacias sanitárias consumissem até 12 litros d´água de descarga por ciclo. Mais tarde, visando reduzir o consumo per capita em nosso país, a partir do ano 2000 esse volume máximo foi reduzido para 9 litros e, a partir do ano 2002, para 6 litros. Segundo pesquisas, o vaso sanitário pode ser responsável por 25% a 30% do que se gasta em uma residência.

Bem, eu sou considerado um ecochato e a minha grande preocupação desde menino foi justamente a questão da poluição das águas e o desmatamento de nossas matas nativas. Para mim que cheguei a tomar banho no Rio Guaíba, foi triste assistir o processo de poluição desmedida a que foram submetidos os nossos rios com a consequente mortandade da grande quantidade de seres vivos que neles proliferavam. Aliás, eu sou um ateu assumido, mas sempre afirmo que se eu tivesse que eleger algum deus, eu faria tal qual os índios e escolheria um elemento da natureza para adorar. E esse elemento seria justamente a água. Ou um cão, quem sabe.

Conseqüentemente, a ideia não parou por aí. Logo estávamos colocando recipientes um pouco maiores do lado de fora da casa para captar a água das chuvas que nos outros dias são utilizados para regar as plantas (e para lavar o meu velho e claudicante Escort 84). Diga-se de passagem, que este é o grande segredo para o viço de nossos vegetais.

Bem, sei que muitas pessoas têm vergonha de aderirem a tais iniciativas, até porque velhas práticas de desperdício adquiridas em épocas de água em abundância são difíceis de serem erradicadas. Mas para aqueles que apenas passam a admirar um ideia quando ela lhes traz uma vantagem financeira, devo dizer que pesquisando na vizinhança, pude perceber que a nossa conta de água fica sempre entre a metade até um sexto do valor da conta de nossos vizinhos.

Além de ser um benefício para o bolso, é também um alívio para nossa consciência ecológica sabermos que estamos, através de um gesto simples como acumular água em baldes, cooperando para a preservação do meio ambiente com uma melhor utilização da água tratada.

Jorge André Irion Jobim