quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ACASOS


Não gosto de encontros agendados, daqueles que nos induzem a termos emoções premeditadas, tal qual a daquelas pessoas que, ainda sem terem deitado os olhos no bebe recém-nascido, já vão exclamando a velha frase: “ ah, mas que coisa mais linda”.

Hoje em dia vejo gente andando na rua com seus celulares marcando reuniões a qualquer momento do dia. Eles deixaram de lado aquela sensação mágica dos encontros que ocorrem ao sabor do acaso, os únicos que nos provocam emoções verdadeiramente de alegria, dependendo é claro da pessoa com a qual nos encontramos. Tais momentos, sempre que acontecem, são cheios de lembranças e o tempo parece curto para tantas histórias a serem contadas. Neles, as reminiscências soam como uma tentativa de recuperar um longo tempo perdido e de reavivar imagens que já estavam se desbotando pela ação do tempo. Emoção pura, sem o artificialismo ou formalismo dos encontros marcados.

Acho que as modernas tecnologias deveriam ser deixadas apenas para serem utilizadas naqueles casos em que temos a quase certeza de que não veremos mais uma determinada pessoa a quem muito estimamos e da qual estamos prestes a nos afastarmos de maneira quase que definitiva. Aí sim, será válido o uso da tecnologia. Em tais casos, ela nos possibilitará aquele último momento de convivência, a última conversa, quase sempre acompanhada de algumas ou de muitas lágrimas Ah, e também para que, no momento de dizermos adeus, possamos guardar na retina aquela que poderá ser última imagem ao vivo daquela pessoa que nos é tão querida.

Já, em relação àquelas pessoas que convivem dentro de um espaço geográfico que proporcione uma razoável possibilidade de nos cruzarmos casualmente com elas, eu prefiro deixar que a aleatoriedade, a qualquer momento, me oportunize espontaneamente a emoção de encontrá-las em uma dessas muitas esquinas da vida. Só assim terei certeza da sinceridade das emoções que serão exteriorizadas.

Jorge André Irion Jobim