quarta-feira, 24 de abril de 2019

CASO LULA MOSTRA JUDICIÁRIO COM MEDO DA 'GRITARIA FASCISTA', DIZ EX-MINISTRO DA JUSTIÇA. Por Redação RBA

Segundo Eugênio Aragão, ministros do STJ evitaram expor racha e julgar pelas leis, mas sim dentro de um verdadeiro bazar, numa negociação de pena. "Isso não é Direito, é pôquer"

Para o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, o resultado do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a sua pena reduzida nesta terça-feira (23) pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mostra que o Judiciário como um todo tem medo da "gritaria fascista", abandonando o seu papel de independência para zelar pela justiça.

"Nas instâncias superiores prevalece o medo, principalmente diante dessa gritaria fascista que vemos contra os ministros mais garantistas, de ameaças, instauração de processos de impeachment, de CPI", afirma.

Para Aragão, a decisão do STJ contou com uma espécie de consenso entre duas frentes: de um lado, Félix Fisher, e os que não concordavam em manter tudo como estava. E, para não expor as "entranhas dos STJ", chegou-se a um meio termo. "Isso é um péssimo sinal, de que o Judiciário não está julgando pelas leis, e sim dentro de um verdadeiro bazar, numa negociação de pena. Isso não é Direito, é pôquer", afirmou, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual nesta quarta-feira (24)

O ex-ministro diz que nesse processo relativo ao tríplex de Guarujá há inúmeras nulidades que deveriam ter sido usadas para derrubar a condenação, mas os juízes, "amedrontados", preferiram ignorar, sob pretexto de que não poderiam reapreciar as provas utilizadas na condenação.

Os integrantes do turma do STJ, avalia ele, estavam divididos, com uma parte dos magistrados tendendo a convalidar integralmente a condenação anterior, e outra que queria uma revisão ainda maior da pena aplicada. Optaram então por uma solução mediana aceitável a todos, com a redução da pena para para 8 anos, 10 meses e 20 dias de prisão.

Aragão diz que, ainda que uma súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) impeça os juízes do STJ de revisitar as provas em julgamento de recurso extraordinário, no caso do ex-presidente Lula há outras irregularidades cometidas pelo então juiz Sergio Moro. Segundo Aragão, quando o próprio Moro reconhece no processo que não houve dano à Petrobras, fica comprovado que ele não deveria ser o juiz do caso, que deveria ser enviado à Justiça Federal de São Paulo, e não do Paraná. "O tribunal não adentrou nessas questões porque não teve coragem."

Com a redução de pena, Lula estaria próximo de progredir para o regime semiaberto, mas Aragão diz que o processo sobre o sítio de Atibaia é outro "estilingue já armado" pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) para evitar que o ex-presidente possa sair da prisão. Ele diz que só a "via política" pode efetivamente tirar Lula do "hall de culpados", já que os tribunais ignoram as leis, temendo a reação negativa por parte de setores mais radicais da direita.


terça-feira, 23 de abril de 2019

FERRAJOLI: É ESCANDALOSO COMO AS INSTITUIÇÕES FORAM USADAS NO GOLPE CONTRA LULA E DILMA. Por Jornal GGN


Um dos juristas mais renomados do mundo, o italiano Luigi Ferrajoli disse, durante evento internacional em solidariedade a Lula, que a prisão do ex-presidente e o impeachment de Dilma Rousseff foram frutos de um processo de perseguição política deflagrado por meio do uso das vias judiciais. Para Ferrajoli, o mais preocupante e “escandaloso” é que o lawfare parece ter se tornado método para se chegar ao poder no Ocidente pós-guerra, colocando em ameaça as democracias.

Em vídeo de cerca de 3 minutos que circula nas redes sociais, Ferrajoli começa analisando a sentença do caso triplex. Para o jurista, o processo contra Lula “é vergonhoso por muitos motivos, não apenas pela falta de provas, não apenas pela aceleração do processo para impedir Lula de se candidatar, mas também por uma característica escandalosa, a total falta de imparcialidade.”

O jurista chamou atenção para o fato de que Sergio Moro foi, ao mesmo tempo, o juiz instrutor do processo e o magistrado que decidiu quais provas seriam validades ou descartadas para constituir a decisão final sobre Lula. A separação entre essas duas figuras, o juiz que atua ativamente na persecução penal, e o juiz que profere a sentença, é um “princípio elementar”, disse Ferrajoli. É preciso haver “separação entre juiz e acusação.”

Contra Lula, a Lava Jato produziu “um processo político, inquisitório, fundado sobre a petição de princípio. É verdade, é aceitável tudo aquilo que confirma a acusação. É falso, inaceitável tudo aquilo que a desmente.”

Ferrajoli avaliou que a força-tarefa e o ex-juiz Sergio Moro manipularam a opinião pública através da imprensa. “Evidentemente essa era a única maneira para poder provocar a reação da opinião pública, porque evidentemente se produziu, no Brasil, uma mudança do poder que não era aceitável para a elite, e então era necessário aquilo que foi chamado golpe.”

“E a coisa mais grave e mais escandalosa sobre a qual todos nós temos que refletir é que existe um valor ameaçador para todo o Ocidente, que é o fato que esse golpe de Estado foi produzido através das instituições”, frisou Ferrajoli.

“Tivemos uma utilização das instituições, da jurisdição que deveria preservar o Estado de Direito, e do Parlamento – porque não podemos esquecer que Dilma Rousseff foi destituída a partir de um impeachment completamente ilegal, de acordo com o artigo 85 da Constituição, porque não existia nenhuma versão constitucional que justificasse o impeachment.”

“Essa é uma enorme ameaça, uma novidade ao menos no Ocidente, depois da segunda guerra. Eu acredito que tudo isso deve nos preocupar enormemente. Não está apenas em jogo a democracia no Brasil, mas uma ameaça gravíssima para a democracia global.”


segunda-feira, 22 de abril de 2019

XADREZ DO DIA EM QUE OS PROCURADORES DA OPERAÇÃO "LAVA JATO" ENTRARAM EM PÂNICO. Luis Nassif

Em texto desta sexta-feira (19/4), o jornalista Luís Nassif analisa os movimentos dos procuradores da "lava jato" para tentar manter seus poderes sobre o sistema político e sobre a jurisdição penal do país.

Leia o texto, publicado no site GGN:

Peça 1 – Toffoli não está isolado no Supremo.

Não há a menor dúvida de que o vazamento do tal telegrama que mencionava “o amigo do amigo de meu pai” teve a intenção de constranger o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, nas vésperas da votação da prisão após julgamento em 2ª instância. Foi uma tacada política. E há pouquíssimas dúvidas sobre as origens desse vazamento, nos porões da Lava Jato.

Por isso mesmo, no STF houve manifestações contra a censura e a forma atabalhoada como o ministro Alexandre de Moraes conduziu os primeiros movimentos o inquérito 4781 – que apura ataques a membros do STF. Mas as ações contra os abusos da Lava Jato têm apoio interno.

No Supremo, há convicção da maioria sobre o excesso de poder conferido ao Ministério Público, fora do controle do Judiciário.

Peça 2 – Há intenção de enquadrar o MPF

Considera-se que, nos últimos anos, o Ministério Público ganhou poderes excessivos, que o colocaram fora do controle jurisdicional. São eles:

    os TACs (Termos de Ajustamento de Conduta) que permitiu ao MP mandar em todas as prefeituras sem passar pelo Judiciário.
    Os PICs (Procedimentos de Investigação Criminal) que permite ao MP fazer investigações sem a supervisão de um juiz, como ocorre nos inquéritos policiais, em que toda investigação está vinculada a um magistrado.
    A delação premiada, que permite toda sorte de jogadas, da indução ao conteúdo das delações, o direcionamento para advogados amigos e até os esquemas de chantagem contra empresas. O caso ganhou contornos mais graves com a denúncia de empresas financiando a delação de seus executivos.
    Pela Lei da Ação Pública, o controle do MPF sobre fundos constituídos pelas multas e ressarcimentos de réus condenados.
    e, agora, o plea bargaining, instituto que permitirá ao representante do Ministério Público negociar diretamente com o acusado e deixar de acusá-lo formalmente, se considerar que as informações apresentadas foram satisfatórias.

Volto ao tema no final do texto. Há instrumentos que são essenciais para o bom funcionamento do MPF e não podem ser destruídos em função do mau uso pela banda podre da corporação.

Peça 3 – os receios da quebra de hierarquia

No Xadrez das Contradições do Pós Impeachment, coloquei que um dos pontos principais de discussão era a questão da quebra da hierarquia.

“Base x cúpula"
É a principal contradição que emerge do golpe. A desconstrução da Constituição, perpetrada pelo STF, não afetou apenas o sistema partidário. Passou a estimular uma rebelião do baixo clero em relação aos controles hierárquicos de cada instituição.

É oi que tem levado a uma reação, ainda tímida, do STF, do Conselho Nacional de Justiça e da PGR. E tem despertado preocupações no Alto Comando das Forças Armadas”.

Uma das mensagens de apoio que o STF recebeu foi do General de Divisão André Luis Novaes Miranda, do Comando Militar do Sudeste, preocupado com a quebra de hierarquia na Justiça. Afinal, com 15 generais 4 estrelas, como segurar 300 mil soldados se a quebra de hierarquia se alastrar?

Peça 4 – Está se chegando perto do vazador

O ministro Alexandre Moraes convocou não apenas delegados de confiança da Polícia Federal, como também está trabalhando com a Polícia Civil de São Paulo. As investigações estão perto de chegar ao vazador.

Algumas das pessoas investigadas, com poucos seguidores nas redes sociais, atuavam como pontos de disseminação dos fakenews. Eles publicavam as primeiras notícias e um conjunto de seguidores, robôs ou não, disseminavam o conteúdo para milhares de perfis.

À medida que as investigações avançam, instaura-se a cizânia na Lava Lato. Ontem mesmo, o procurador Deltan Dallagnol se defendeu, alegando que os procuradores tiveram acesso aos autos depois do vazamento ter sido publicado. Jogou a suspeita na Polícia Federal. Nas redes sociais, os ataques ao STF caíram quase 80%.

Ao mesmo tempo, informações que chegaram ao Supremo indicam que houve troca frenética de telefonemas entre os procuradores, às 5:30 da manhã, para saber se havia movimentação de polícia na frente da sua casa. Como se sabe, invasões de domicílio podem ser feitas a partir das 6 da manhã. Para sua sorte, nenhum foi detido na banheira, como Marat na Revolução Francesa.

No episódio do vazamento das conversas entre Lula e Dilma, quando o Ministro Teori Zavascki exigiu explicações, delegados da PF informaram ter consultado o PGR Rodrigo Janot, que estava em viagem. E não foram desmentidos. O clima da época impediu que Janot fosse devidamente enquadrado.

No limite, os que atuaram na ponta acabarão por jogar a responsabilidade nas costas do ex-juiz Sérgio Moro.

Peça 5 – o Inquérito 4781

Nos próximos dias, haverá um aumento da disputa em torno do Inquérito 4781. Hoje, O Globo abriu editorial a favor do trancamento do inquérito. Há tempos, as Organizações Globo tornaram-se reféns dos punitivistas do MPF, em função do envolvimento com a corrupção da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Como se recorda, o MPF abafou o inquérito que corria no Rio de Janeiro.

E tornou a abafar quando o Ministério Público espanhol enviou provas da compra da Copa Brasil pela Globo, sem a participação de “laranjas”. É uma espada de Dâmocles permanente no pescoço do grupo.

Por outro lado, as ações do STF embutem o risco de se trocar o autoritarismo miliciano do baixo clero por um sistema autoritário centralizado, o autoritarismo das milícias pelo autoritarismo da cúpula.

Peça 6 – a preservação do MPF

Todos esses pontos exigirão um posicionamento claro das instituições. O MPF colhe, agora, a irresponsabilidade do pior Procurador Geral da história, Rodrigo Janot, permitindo os abusos iniciais da Lava Jato e, depois, aderindo de forma oportunista às ondas formadas.

Os novos poderes do MPF provocaram o surgimento dos pequenos ditadores na ponta. Mas foram e são, também, ferramentas relevantes de defesa dos direitos nas mãos de procuradores responsáveis.

Tem-se agora uma PGR com pouco jogo de cintura político, mas séria e responsável em relação ao MPF e ao país. E um trabalho exemplar, por todo o país, de procuradores que não se deixaram contaminar pelo deslumbramento e falta de limites da Lava Jato e que têm nos TACs e outras ferramentas instrumentos relevantes de defesa dos direitos dos índios, dos negros, do meio ambiente.

Não se pode comprometer a autonomia do MPF – um dos princípios centrais da democracia brasileira – por conta de meia dúzia de tresloucados e por lideranças claudicantes. O pior que poderia acontecer seria substituir o MPF abusivo de hoje seja substituído pelo MPF adesista de outros tempos.

Vai se entrar em uma nova etapa da vida política do país. E ainda não se sabe se avançando mais ainda rumo ao estado de exceção, ou em relação aos valores civilizatórios.

Revista Consultor Jurídico