segunda-feira, 29 de novembro de 2010

MÃES MENININHAS

Já não me causa mais admiração ver meninas recém saídas da infância, ficarem grávidas precocemente e totalmente despreparadas para a maternidade. Ainda ontem, eu vi passar na frente de minha casa, mais uma delas, com não mais do que 14 anos, carregando uma barriga que deixava clara a gravidez em estado bastante adiantado.

Pensei comigo mesmo em como o tempo passa depressa. Afinal, anteriormente, eu vi a mãe dessa menina passar na mesma calçada, grávida também, e sabem de quem? Isso mesmo. Dela, da menina a que estou me referindo e que por acaso, ainda bebê de colo, foi minha cliente representada pela mãe e pela avó, na busca de uma pensão alimentícia a ser paga por um pai ainda adolescente e totalmente desprovido de qualquer condição financeira.

Lembro-me que em audiência de conciliação, o jovem pai, por não nenhuma espécie de ganho ou de qualificação para obter um emprego, restou condenado a pagar uma pensão alimentícia no valor mínimo que os juízes da nossa comarca costumam fixar em tais casos, ou seja, 30% do salário mínimo nacional. Evidentemente, a mãe e a avó, ficaram zangadas com tal decisão, eis que entendiam ser uma quantia irrisória que não daria para “criar uma filha”, conforme suas próprias palavras. De nada adiantou eu tentar explicar-lhes a respeito do famoso binômio possibilidade/necessidade. Elas entendiam que o juiz deveria ter condenado o rapaz a pagar uma quantia maior e ele que “se virasse” para pagar.

Acabei entrando em desacordo com elas e encerrei por ali a minha relação de trabalho com as duas (três, na verdade). Tempos depois, fiquei sabendo que em virtude do pai, agora com dezoito anos, não ter efetuado os pagamentos da pensão na data aprazada, elas buscaram a defensoria pública que ingressou com uma ação de execução de alimentos e ele, em não tendo como pagar, acabou indo parar na prisão.

Lá dentro, acabou ficando “escolado” e aprendeu tudo o que era necessário para iniciar uma vida voltada para o crime. Soube de todos os contatos necessários para comprar armas, adquirir drogas para revender, pessoas que fazem o transporte e outras “cositas mas”.

Ao sair, o fato de ter estado preso, fez com ele “subisse no conceito”, conforme se diz na gíria dos criminosos. Despreparado para obter qualquer tipo de emprego e com a mácula de ter sido presidiário, ele não pensou duas vezes: iniciou seu negócio de vender drogas e em breve, já estava com uma moto e um local bastante freqüentado por carros de luxo. Evidentemente, este fato acabou chamando a atenção das autoridades que acabaram fazendo uma “batida” no local e o rapaz acabou preso, acusado e condenado por tráfico de drogas. Triste final para algo que começou com um simples amor de adolescentes.

É que apesar de todos as informações que os jovens recebem hoje em dia, parece que nada adianta: a sexualidade ainda é praticada sem qualquer cuidado para evitar as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez. E assim, temos uma sucessão de meninas gerando outras crianças, sem terem condições econômicas ou psicológicas para tanto.

Com pais e mães ainda não preparados para criarem um filho e com avós que precisam se ausentar o dia inteiro para obterem o sustento da família, eu fico me perguntando como é que essas crianças crescem. Quais os valores que acabam dirigindo suas vidas? Quais serão suas referências diante do fato notório de que a família que deveria ser para elas um ambiente de proteção integral, não vem mais cumprindo sua principal função que é justamente a de lhes dar o aporte afetivo necessário para o seu desenvolvimento saudável, despertando-as para os principais valores éticos e de conduta socialmente aceitos?

Fica bem evidente que, em sua maioria, os modelos que elas irão seguir, são aqueles ditados pelas ruas, pela falsa malandragem, pela pequenez de objetivos e de perspectivas e em breve, elas continuarão dando seqüência ao ciclo iniciado pelas suas gerações anteriores. Muitas dessas meninas em breve estarão trazendo à vida novas crianças condenadas ao desamparo e os meninos, possivelmente acabarão freqüentando a “universidade do crime” que é a prisão. É um círculo vicioso que, se não for cortado imediatamente por alguma iniciativa conjunta das famílias, da sociedade e dos governos, seguirá assolando e comprometendo inexoravelmente boa parte de nossas novas gerações.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS



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