domingo, 6 de setembro de 2015

HÁ 43 ANOS ATRÁS




Há exatos 43 anos atrás, dia 02 de Setembro de 1.972, estes dois jovens uniam-se em casamento, sem terem noção de que estavam dando a partida em um grande e complicado objeto voador, passível de cair diante da mais leve imperícia. Só que nós não tínhamos a mínima idéia de como dirigi-lo e conseqüentemente, de como aterrizá-lo em caso de necessidade.

Pois apesar de todos os vaticínios de que esta relação não iria durar, já que éramos praticamente duas crianças, passados 43 anos continuamos voando e mesmo diante das inevitáveis turbulências, aprendemos em pleno vôo a dominar esta máquina assustadora que é o casamento. Inclusive hoje, servimos de exemplo e somos instados a dar conselhos para muitos outros casais que se encontram em momentos dificuldades em seus relacionamentos afetivos.

E para coroar esta união, geramos três filhos maravilhosos, criados sob a égide de um valor que para nós sempre foi inestimável que é justamente o do conhecimento. Ao contrário de muitos pais, nós nunca ensinamos nossos filhos a colocarem suas vidas a serviço da busca de bens materiais. Assim como fazíamos com todos os que nos cercam, nós sempre os ensinamos que o conhecimento é a maior riqueza que qualquer pessoa pode amealhar em sua transitória passagem pela vida.

Para nosso orgulho, hoje os três já alçaram seus próprios vôos, seguem suas trajetórias iluminando caminhos e mentes, sempre distribuindo sementes de solidariedade pelo mundo afora.

Bem, aquele burburinho do som das crianças, dos adolescentes e dos estudantes hoje silenciou e na velha casa da família, ficamos só nós dois, acompanhados pelo nosso cão Floquinho e dois gatos dos vizinhos que nos visitam regularmente. Mas a sensação que temos é exatamente a daquela paz de espírito que invade qualquer pessoa diante da certeza da missão cumprida.

Um abraço a todos os que nos acompanharam nesta revoada, ainda que por alguns momentos, e queremos dizer que pretendemos continuar voando por muitos anos ainda, pois nosso entusiasmo pelo conhecimento de novas idéias, coisas e caminhos, continua aceso em nossas mentes, eternos aprendizes que somos.

Jorge André Irion Jobim e Clarinha Jobim

KARIMAN. UM TEMPO PARA RECORDAR


A sexta-feira de ontem (28/08/15), foi um dia bastante aprazível, ao contrário dos dias turbulentos que eu vinha passando ultimamente. Durante a tarde, recebi a visita de uma velho parceiro de música que atualmente reside na Bolívia e veio passar uns tempos com a família aqui em Santa Maria.

Trata-se do amigo Taby, guitarrista com o qual eu toquei desde os 15 anos de idade e com o qual fundamos a banda Os Rebeldes nos anos 60 e posteriormente o grupo Kariman, já nos anos 70.

Há 34 anos atrás, exatamente no ano de 1981, paramos de trabalhar juntos e cada um seguiu o seu caminho, sendo que durante este tempo, muita água rolou por debaixo da ponte.

Foi uma tarde de muitas recordações de um tempo em que o rock era ainda produzido de maneira artesanal e não tinha este glamour que tem hoje. Nós mesmos comprávamos nossa aparelhagem (caríssima, por sinal), aprendíamos eletrônica para consertarmos nosso instrumental, carregávamos o equipamento e, pasmem, chegávamos até a transportar todo o nosso material de carroça. Felizmente sempre havia algum amigo maluco que emprestava um jogo de luz, outro que desenhava os cartazes feitos à mão para divulgarmos nossos shows e assim levávamos nossos sonhos adiante. Na verdade, podemos chamar de um “rock solidariedade”.

Ele me trouxe algumas fotos que me deram muita alegria, já que eu não as possuía, pois na época, ao contrário de hoje, elas eram um produto de luxo e muito poucas temos daquela época mágica.

A foto que aí está, é de 1972 e foi tirada na frente da antiga TV Imembuí, emissora atualmente pertencente à RBS TV, afilhada da Rede Globo. Fomos até lá nos apresentarmos em um show ao vivo, durante o qual tocamos músicas de Chuck Berry, Little  Richard, Beatles e outras tantas de nossa autoria. Aliás, temos o orgulho de afirmar que fomos a primeira banda essencialmente de rock e também de termos sido os primeiros a apresentar 50% de músicas autorais aqui em Santa Maria.

Logo após, incentivados inclusive pelo pessoal da TV Imembuí que afirmou ter recebido vários telefonemas dizendo que nós devíamos ampliar nossos horizontes, fomos trabalhar em Porto Alegre, época em que ficamos bastante conhecidos nos famosos shows de rock que permearam o início dos anos 70. Tivemos a honra de trabalhar com bandas como o Bixo das Seda (do Mimi e Marcos Lessa, Pecos, Cláudio Vera Cruz, Fughetti Luz e Edinho Espíndola),  Bobo da Corte (da Gata e do Zé Vicente Brizola, filho do político Brizola que à época estava exilado) Utopia de Bebeto Alves, Bizarro, Khaos, Fruto Proibido, Prelúdio e tantas outras.

Foi um tempo mágico, mas que terminou e hoje permanece apenas na lembrança daqueles que tiveram o privilégio de vivê-lo. O show de rock hoje é uma superprodução, um mega evento com tudo calculado a cada minuto, não admitindo um erro sequer. Perdeu a sua principal característica que era justamente o caráter de improvisação e superação das dificuldades materiais.

Mas tudo bem, vida que segue e cá estou eu de volta às minhas teses jurídicas, jurisprudências, petições e decisões a tomar a respeito de vidas de pessoas que colocam seus destinos em minhas mãos. Faço isto de bom grado, pois acredito estar influenciando minimamente nos destinos de minha comunidade, muitas vezes levando uma palavra de alento e solidariedade a pessoas que tanto necessitam da ajuda de alguém.

Mas que é bom recordar daqueles tempos, lá isto é. Pois é amigo Taby, não conseguimos mudar o mundo com nossas canções conforme sonhávamos, mas não podemos dizer que não tentamos.

Na foto, o baterista Betinho, o contrabaixista Eduardo Camello, o guitarrista Taby que era nosso cantor mais rock and roll e bem abaixo com os longos cabelos repartidos ao meio, eu com minha velha guitarra Begger. Bem, os bons observadores já terão percebido que nosso contrabaixista era canhoto. Será que dá para perceber que banda era nossa principal influência?

Jorge André Irion Jobim.

TESTEMUNHA OCULAR DA HISTÓRIA



Os mais jovens talvez nunca tenham ouvido o slogan “testemunha ocular da história”, termo que era utilizado no famoso Repórter Esso, programa de rádiojornalismo que encerrou suas transmissões em 31 de dezembro de 1968. Era através dele que ficávamos sabendo tudo o que acontecia por este Brasil afora.

Pois eu sou uma destas legítimas testemunhas oculares da história, em primeiro lugar pela idade e também em virtude de ter herdado de meu saudoso pai esta tendência a ser politizado desde a tenra infância. Ele era Getulista ferrenho e depois de seu suicídio, tornou-se Brizolista, tendo sido adepto do Campanha pela Legalidade de 1961 liderado por Brizola, momento em que quase foi deflagrada uma guerra civil entre os brasileiros que defendiam a posse de João Goulart e aqueles que eram contrários a que isto viesse a acontecer.

Pois eu digo com muito orgulho, que cheguei a ser presidido por Getúlio Vargas e embora eu fosse ainda um menininho, tenho vívidas lembranças sobre o dia em que recebemos a notícia de que ele havia se suicidado e ainda me lembro de meu pai chegando em casa bastante desolado. Um pouco antes dele falecer, em nossa última conversa, falamos sobre aqueles acontecimentos e ele me revelou que naquele dia havia brigado com um colega de trabalho que havia chegado  exultante com o suicídio do Presidente Vargas, gritando “felizmente morreu o Pai dos Pobres”.

É de se ressaltar que naquela época, desde meninos nós já tínhamos posicionamentos políticos e freqüentemente nos envolvíamos em sérias discussões na defesa de nossas convicções. Recordo que já com nove anos, nas eleições de 1960, eu fiz campanha para o Marechal Lott que, apesar de militar, era o candidato que eu entendia ser o mais progressista entre todos os concorrentes. Nós jovens comprávamos pequenos broches com uma espada que era o símbolo da campanha de Lott e os revendíamos a preço de custo para os eleitores que quisessem carregar na roupa sua preferência política.

Os outros candidatos eram Ademar de Barros (apelidado de “rouba mas faz”), cujo símbolo era um bote salva-vidas e Jânio Quadros, que tinha como símbolo uma vassourinha com a qual ele prometia varrer a corrupção que campeava pelo Brasil. Jânio Quadros acabou vencendo com 48% dos votos do eleitorado, contra 32% dados a Henrique Teixeira Lott e 20% a Ademar de Barros. Deu no que deu.

Bem, eu poderia me estender por muito tempo e falar de maneira mais detalhada sobre alguns acontecimentos ocorridos durante a Campanha pela Legalidade de 1961 e do Golpe Militar de 1964, mas vou deixar para outra hora, já que eu aprendi que atualmente, textos muito longos não são mais lidos.

De qualquer maneira, não posso deixar passar em branco a data de hoje, justamente o aniversário do suicídio do ex-Presidente Getúlio Vargas, aquele que abriu as portas para uma série de direitos que beneficiavam as camadas mais pobres da população. E como prova desta minha vocação à participação política, eis-me aí nas fotografias portando um jornal exatamente do dia de seu suicídio no fatídico dia 24 de Agosto de 1954. Ele é uma herança de meu pai que eu conservarei até o fim de meus dias, sendo que após minha morte ele será repassado para meu filho que é professor de História na cidade de Bagé.

Jorge André Irion Jobim