quinta-feira, 22 de julho de 2010

FLOQUINHO. O MESTRE-CÃO




Heresia, dirão alguns ao me ouvirem dizer que meu elo de ligação (re ligio) com o universo é o Floquinho, meu pequeno cãozinho de raça indefinida que há sete anos praticamente faz parte constante do meu dia-a-dia. Vivemos em uma relação, não de igualdade, mas de quase-igualdade pois eu o considero, como a qualquer animal, superior a mim e todos os outros insignificantes seres da minha espécie.

Nos anos de nossa convivência, muito tenho aprendido com ele. Cada vez que me deparo com um problema daqueles que costumam atormentar a todos nós, seres humanos e para os quais nunca encontramos resposta, mais admiração eu tenho pelo meu cãozinho. Aliás, devo dizer que, embora eu seja um ateu convicto, se tivesse que escolher uma forma para um deus qualquer, creio que ele estaria bem servido tendo a imagem e semelhança de um cão.

Que bom seria que o Floquinho pudesse me ensinar a ser bicho e a me livrar de todo esse nosso lixo cultural, passando a viver acima do bem e do mal e de outros milhares de maniqueísmos que construímos ao logo da história. Afinal, todos os nossos anos de estudo, construções faraônicas, obras de arte, centenas de livros devorados, complexas construções teóricas a respeito de tudo, nada consegue nos trazer as respostas que precisamos e até hoje ainda continuamos discutindo qual o rumo da humanidade sem atingirmos o nosso intento.

Pois o Floquinho, logo que clareia o dia, vai até a porta, olha, ouve e cheira o ar e pronto: apenas com os sentidos ele já sabe exatamente tudo o que precisa e qual o rumo a tomar. Sem traumas ou teorias. Apenas o agir.

E nós seres humanos, com todas as nossas ditas grandes conquistas, tudo o que temos de sobra é tão somente guerra, devastação e destruição de nosso próprio habitat, o planeta terra. Quanto mais aprendemos, mais duvidas aparecem e se buscamos soluções, mais a nossa confusão aumenta.

Confesso que muitas vezes já me peguei pensando que eu bem que gostaria de trocar essa nossa pretensa civilização por uma simples vida de cão. Longe dos seres humanos, é claro.

Espero que continuemos por muito tempo ainda esta nossa relação perfeita e respeitosa de aluno e professor. Ele o mestre e eu, o aprendiz.

Jorge André Irion Jobim