domingo, 16 de junho de 2019

O DIA EM QUE A REVOLUÇÃO FOI ABORTADA

Neste dia 15 de junho de 2019, às 17,30 horas, coloquei minha calça jeans, minhas botinas pretas, uma camisa bem grossa para o caso de alguma agressão física, minha bolsa pequena à tiracolo com um lenço para o caso de qualquer agressão com gás e, atendendo à exortação que foi feita ontem na manifestação contra a “deforma” da previdência social, me dirigi até a Praça do Mallet. A conclamação era para que mostrássemos ao bozzo que vinha visitar Santa Maria que por aqui havia gente que não concordava com seu entreguismo e subserviência aos imperialistas do norte e o destino do inominável era justamente o Regimento Mallet.

Qual não foi minha surpresa quando ao chegar ao local e ver a praça lotada de adeptos do fascista, todos com suas camisetas amarelas da seleção de futebol (em relação às quais eu desenvolvi uma ojeriza irreversível) ou com a estampa do dito cujo no peito. Andei disfarçadamente no meio deles para ver se encontrava algum companheiro da jornada do dia anterior, mas encontrei apenas um corajoso em um canto, vestindo um boné e uma camiseta do MST. Nas mãos uma bandeira já sendo devidamente sendo enrolada.

Resolvi telefonar para a Baixinha, pois eu havia brincado com ela antes de sair que eu estava indo à luta para começar a revolução. Em tom jocoso, disse-lhe que suspendesse meu enterro, pois pelo jeito, não me restava outro caminho que não uma retirada honrosa.

Ainda pensei em voltar e tentar conversar com o corajoso do MST, pois podia haver algum grupo chegando, mas ao me aproximar, percebi que ele já estava sendo cercado de bolsonaristas com caras de poucos amigos e em razão disso, resolveu também se retirar.

Definitivamente, percebi que as “tropas revolucionárias” não viriam, e como esta história de ‘exército de um homem só’ não é comigo e nem tenho vocação para ser mártir de uma luta que eu não tenha a mínima condição de vencer, decidi ir embora.

Quando eu ia saindo, chegou a comitiva do bozzo com vária automóveis, carros da BM, da polícia civil, uns três carros dos bombeiros e o grupo de admiradores ficou em delírio gritando “mito, mito, mito”.

Bem, fui caminhando frustrado por uma rua lateral e, tendo sido abortada a revolução, como eu estava perto do mercado, resolvi entrar, comprar algumas coisinhas e voltei para casa.

E assim terminou o meu sonho de morrer com um pouco de dignidade, lutando por uma causa que eu considero justa que é a de combater fascistas. E para encurtar a história, o meu final do dia foi sentando na sala, tomando mate com a Baixinha, comendo pão com mortadela e vendo uma novela. Para quem ia fazer uma revolução, foi frustrante, não?

É gente. Já não fazem mais revoluções como antigamente. Acho que estas coisas estão fora de moda. E eu mais ainda...

Fico me perguntando: será que agora só teremos revoluções virtuais? Uma coisa é certa; um bom hacker faz mais estragos no inimigo do que um batalhão de bons guerreiros armados até os dentes...No futuro, ao invés do Che Guevara, teremos gente cultuando o Glenn Greenwald...Já fico imaginando os espertos capitalistas tratando de criar uma linha de camisetas com a estampa dele e vendendo milhões...Como dizia uma velha amiga prostituta, “guris, tudo é comércio”.

Jorge André Irion Jobim

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