domingo, 6 de setembro de 2015

TESTEMUNHA OCULAR DA HISTÓRIA



Os mais jovens talvez nunca tenham ouvido o slogan “testemunha ocular da história”, termo que era utilizado no famoso Repórter Esso, programa de rádiojornalismo que encerrou suas transmissões em 31 de dezembro de 1968. Era através dele que ficávamos sabendo tudo o que acontecia por este Brasil afora.

Pois eu sou uma destas legítimas testemunhas oculares da história, em primeiro lugar pela idade e também em virtude de ter herdado de meu saudoso pai esta tendência a ser politizado desde a tenra infância. Ele era Getulista ferrenho e depois de seu suicídio, tornou-se Brizolista, tendo sido adepto do Campanha pela Legalidade de 1961 liderado por Brizola, momento em que quase foi deflagrada uma guerra civil entre os brasileiros que defendiam a posse de João Goulart e aqueles que eram contrários a que isto viesse a acontecer.

Pois eu digo com muito orgulho, que cheguei a ser presidido por Getúlio Vargas e embora eu fosse ainda um menininho, tenho vívidas lembranças sobre o dia em que recebemos a notícia de que ele havia se suicidado e ainda me lembro de meu pai chegando em casa bastante desolado. Um pouco antes dele falecer, em nossa última conversa, falamos sobre aqueles acontecimentos e ele me revelou que naquele dia havia brigado com um colega de trabalho que havia chegado  exultante com o suicídio do Presidente Vargas, gritando “felizmente morreu o Pai dos Pobres”.

É de se ressaltar que naquela época, desde meninos nós já tínhamos posicionamentos políticos e freqüentemente nos envolvíamos em sérias discussões na defesa de nossas convicções. Recordo que já com nove anos, nas eleições de 1960, eu fiz campanha para o Marechal Lott que, apesar de militar, era o candidato que eu entendia ser o mais progressista entre todos os concorrentes. Nós jovens comprávamos pequenos broches com uma espada que era o símbolo da campanha de Lott e os revendíamos a preço de custo para os eleitores que quisessem carregar na roupa sua preferência política.

Os outros candidatos eram Ademar de Barros (apelidado de “rouba mas faz”), cujo símbolo era um bote salva-vidas e Jânio Quadros, que tinha como símbolo uma vassourinha com a qual ele prometia varrer a corrupção que campeava pelo Brasil. Jânio Quadros acabou vencendo com 48% dos votos do eleitorado, contra 32% dados a Henrique Teixeira Lott e 20% a Ademar de Barros. Deu no que deu.

Bem, eu poderia me estender por muito tempo e falar de maneira mais detalhada sobre alguns acontecimentos ocorridos durante a Campanha pela Legalidade de 1961 e do Golpe Militar de 1964, mas vou deixar para outra hora, já que eu aprendi que atualmente, textos muito longos não são mais lidos.

De qualquer maneira, não posso deixar passar em branco a data de hoje, justamente o aniversário do suicídio do ex-Presidente Getúlio Vargas, aquele que abriu as portas para uma série de direitos que beneficiavam as camadas mais pobres da população. E como prova desta minha vocação à participação política, eis-me aí nas fotografias portando um jornal exatamente do dia de seu suicídio no fatídico dia 24 de Agosto de 1954. Ele é uma herança de meu pai que eu conservarei até o fim de meus dias, sendo que após minha morte ele será repassado para meu filho que é professor de História na cidade de Bagé.

Jorge André Irion Jobim




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