domingo, 6 de setembro de 2015

KARIMAN. UM TEMPO PARA RECORDAR


A sexta-feira de ontem (28/08/15), foi um dia bastante aprazível, ao contrário dos dias turbulentos que eu vinha passando ultimamente. Durante a tarde, recebi a visita de uma velho parceiro de música que atualmente reside na Bolívia e veio passar uns tempos com a família aqui em Santa Maria.

Trata-se do amigo Taby, guitarrista com o qual eu toquei desde os 15 anos de idade e com o qual fundamos a banda Os Rebeldes nos anos 60 e posteriormente o grupo Kariman, já nos anos 70.

Há 34 anos atrás, exatamente no ano de 1981, paramos de trabalhar juntos e cada um seguiu o seu caminho, sendo que durante este tempo, muita água rolou por debaixo da ponte.

Foi uma tarde de muitas recordações de um tempo em que o rock era ainda produzido de maneira artesanal e não tinha este glamour que tem hoje. Nós mesmos comprávamos nossa aparelhagem (caríssima, por sinal), aprendíamos eletrônica para consertarmos nosso instrumental, carregávamos o equipamento e, pasmem, chegávamos até a transportar todo o nosso material de carroça. Felizmente sempre havia algum amigo maluco que emprestava um jogo de luz, outro que desenhava os cartazes feitos à mão para divulgarmos nossos shows e assim levávamos nossos sonhos adiante. Na verdade, podemos chamar de um “rock solidariedade”.

Ele me trouxe algumas fotos que me deram muita alegria, já que eu não as possuía, pois na época, ao contrário de hoje, elas eram um produto de luxo e muito poucas temos daquela época mágica.

A foto que aí está, é de 1972 e foi tirada na frente da antiga TV Imembuí, emissora atualmente pertencente à RBS TV, afilhada da Rede Globo. Fomos até lá nos apresentarmos em um show ao vivo, durante o qual tocamos músicas de Chuck Berry, Little  Richard, Beatles e outras tantas de nossa autoria. Aliás, temos o orgulho de afirmar que fomos a primeira banda essencialmente de rock e também de termos sido os primeiros a apresentar 50% de músicas autorais aqui em Santa Maria.

Logo após, incentivados inclusive pelo pessoal da TV Imembuí que afirmou ter recebido vários telefonemas dizendo que nós devíamos ampliar nossos horizontes, fomos trabalhar em Porto Alegre, época em que ficamos bastante conhecidos nos famosos shows de rock que permearam o início dos anos 70. Tivemos a honra de trabalhar com bandas como o Bixo das Seda (do Mimi e Marcos Lessa, Pecos, Cláudio Vera Cruz, Fughetti Luz e Edinho Espíndola),  Bobo da Corte (da Gata e do Zé Vicente Brizola, filho do político Brizola que à época estava exilado) Utopia de Bebeto Alves, Bizarro, Khaos, Fruto Proibido, Prelúdio e tantas outras.

Foi um tempo mágico, mas que terminou e hoje permanece apenas na lembrança daqueles que tiveram o privilégio de vivê-lo. O show de rock hoje é uma superprodução, um mega evento com tudo calculado a cada minuto, não admitindo um erro sequer. Perdeu a sua principal característica que era justamente o caráter de improvisação e superação das dificuldades materiais.

Mas tudo bem, vida que segue e cá estou eu de volta às minhas teses jurídicas, jurisprudências, petições e decisões a tomar a respeito de vidas de pessoas que colocam seus destinos em minhas mãos. Faço isto de bom grado, pois acredito estar influenciando minimamente nos destinos de minha comunidade, muitas vezes levando uma palavra de alento e solidariedade a pessoas que tanto necessitam da ajuda de alguém.

Mas que é bom recordar daqueles tempos, lá isto é. Pois é amigo Taby, não conseguimos mudar o mundo com nossas canções conforme sonhávamos, mas não podemos dizer que não tentamos.

Na foto, o baterista Betinho, o contrabaixista Eduardo Camello, o guitarrista Taby que era nosso cantor mais rock and roll e bem abaixo com os longos cabelos repartidos ao meio, eu com minha velha guitarra Begger. Bem, os bons observadores já terão percebido que nosso contrabaixista era canhoto. Será que dá para perceber que banda era nossa principal influência?

Jorge André Irion Jobim.

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