Os mais jovens talvez nunca tenham ouvido o slogan
“testemunha ocular da história”, termo que era utilizado no famoso Repórter
Esso, programa de rádiojornalismo que encerrou suas transmissões em 31 de
dezembro de 1968. Era através dele que ficávamos sabendo tudo o que acontecia
por este Brasil afora.
Pois
eu sou uma destas legítimas testemunhas oculares da história, em primeiro lugar
pela idade e também em virtude de ter herdado de meu saudoso pai esta tendência
a ser politizado desde a tenra infância. Ele era Getulista ferrenho e depois de
seu suicídio, tornou-se Brizolista, tendo sido adepto do Campanha pela
Legalidade de 1961 liderado por Brizola, momento em que quase foi deflagrada
uma guerra civil entre os brasileiros que defendiam a posse de João Goulart e
aqueles que eram contrários a que isto viesse a acontecer.
Pois
eu digo com muito orgulho, que cheguei a ser presidido por Getúlio Vargas e
embora eu fosse ainda um menininho, tenho vívidas lembranças sobre o dia em que
recebemos a notícia de que ele havia se suicidado e ainda me lembro de meu pai
chegando em casa bastante desolado. Um pouco antes dele falecer, em nossa
última conversa, falamos sobre aqueles acontecimentos e ele me revelou que
naquele dia havia brigado com um colega de trabalho que havia
chegado exultante com o suicídio do
Presidente Vargas, gritando “felizmente morreu o Pai dos Pobres”.
É
de se ressaltar que naquela época, desde meninos nós já tínhamos
posicionamentos políticos e freqüentemente nos envolvíamos em sérias discussões
na defesa de nossas convicções. Recordo que já com nove anos, nas eleições de
1960, eu fiz campanha para o Marechal Lott que, apesar de militar, era o
candidato que eu entendia ser o mais progressista entre todos os concorrentes.
Nós jovens comprávamos pequenos broches com uma espada que era o símbolo da
campanha de Lott e os revendíamos a preço de custo para os eleitores que
quisessem carregar na roupa sua preferência política.
Os
outros candidatos eram Ademar de Barros (apelidado de “rouba mas faz”), cujo
símbolo era um bote salva-vidas e Jânio Quadros, que tinha como símbolo uma
vassourinha com a qual ele prometia varrer a corrupção que campeava pelo
Brasil. Jânio Quadros acabou vencendo com 48% dos votos do eleitorado, contra
32% dados a Henrique Teixeira Lott e 20% a Ademar de Barros. Deu no que deu.
Bem,
eu poderia me estender por muito tempo e falar de maneira mais detalhada sobre
alguns acontecimentos ocorridos durante a Campanha pela Legalidade de 1961 e do
Golpe Militar de 1964, mas vou deixar para outra hora, já que eu aprendi que
atualmente, textos muito longos não são mais lidos.
De
qualquer maneira, não posso deixar passar em branco a data de hoje, justamente
o aniversário do suicídio do ex-Presidente Getúlio Vargas, aquele que abriu as
portas para uma série de direitos que beneficiavam as camadas mais pobres da
população. E como prova desta minha vocação à participação política, eis-me aí
nas fotografias portando um jornal exatamente do dia de seu suicídio no
fatídico dia 24 de Agosto de 1954. Ele é uma herança de meu pai que eu
conservarei até o fim de meus dias, sendo que após minha morte ele será
repassado para meu filho que é professor de História na cidade de Bagé.
Jorge
André Irion Jobim
Nenhum comentário:
Postar um comentário