A
sexta-feira de ontem (28/08/15), foi um dia bastante aprazível, ao contrário
dos dias turbulentos que eu vinha passando ultimamente. Durante a tarde, recebi
a visita de uma velho parceiro de música que atualmente reside na Bolívia e veio
passar uns tempos com a família aqui em Santa Maria.
Trata-se
do amigo Taby, guitarrista com o qual eu toquei desde os 15 anos de idade e com
o qual fundamos a banda Os Rebeldes nos anos 60 e posteriormente o grupo
Kariman, já nos anos 70.
Há
34 anos atrás, exatamente no ano de 1981, paramos de trabalhar juntos e cada um
seguiu o seu caminho, sendo que durante este tempo, muita água rolou por
debaixo da ponte.
Foi
uma tarde de muitas recordações de um tempo em que o rock era ainda produzido
de maneira artesanal e não tinha este glamour que tem hoje. Nós mesmos
comprávamos nossa aparelhagem (caríssima, por sinal), aprendíamos eletrônica
para consertarmos nosso instrumental, carregávamos o equipamento e, pasmem,
chegávamos até a transportar todo o nosso material de carroça. Felizmente sempre
havia algum amigo maluco que emprestava um jogo de luz, outro que desenhava os
cartazes feitos à mão para divulgarmos nossos shows e assim levávamos nossos
sonhos adiante. Na verdade, podemos chamar de um “rock solidariedade”.
Ele
me trouxe algumas fotos que me deram muita alegria, já que eu não as possuía,
pois na época, ao contrário de hoje, elas eram um produto de luxo e muito
poucas temos daquela época mágica.
A
foto que aí está, é de 1972 e foi tirada na frente da antiga TV Imembuí,
emissora atualmente pertencente à RBS TV, afilhada da Rede Globo. Fomos até lá
nos apresentarmos em um show ao vivo, durante o qual tocamos músicas de Chuck
Berry, Little Richard, Beatles e outras
tantas de nossa autoria. Aliás, temos o orgulho de afirmar que fomos a primeira
banda essencialmente de rock e também de termos sido os primeiros a apresentar
50% de músicas autorais aqui em Santa Maria.
Logo
após, incentivados inclusive pelo pessoal da TV Imembuí que afirmou ter
recebido vários telefonemas dizendo que nós devíamos ampliar nossos horizontes,
fomos trabalhar em Porto Alegre, época em que ficamos bastante conhecidos nos
famosos shows de rock que permearam o início dos anos 70. Tivemos a honra de
trabalhar com bandas como o Bixo das Seda (do Mimi e Marcos Lessa, Pecos,
Cláudio Vera Cruz, Fughetti Luz e Edinho Espíndola), Bobo da Corte (da Gata e do Zé Vicente Brizola, filho do político
Brizola que à época estava exilado) Utopia de Bebeto Alves, Bizarro, Khaos,
Fruto Proibido, Prelúdio e tantas outras.
Foi
um tempo mágico, mas que terminou e hoje permanece apenas na lembrança daqueles
que tiveram o privilégio de vivê-lo. O show de rock hoje é uma superprodução,
um mega evento com tudo calculado a cada minuto, não admitindo um erro sequer.
Perdeu a sua principal característica que era justamente o caráter de
improvisação e superação das dificuldades materiais.
Mas
tudo bem, vida que segue e cá estou eu de volta às minhas teses jurídicas,
jurisprudências, petições e decisões a tomar a respeito de vidas de pessoas que
colocam seus destinos em minhas mãos. Faço isto de bom grado, pois acredito
estar influenciando minimamente nos destinos de minha comunidade, muitas vezes
levando uma palavra de alento e solidariedade a pessoas que tanto necessitam da
ajuda de alguém.
Mas
que é bom recordar daqueles tempos, lá isto é. Pois é amigo Taby, não
conseguimos mudar o mundo com nossas canções conforme sonhávamos, mas não
podemos dizer que não tentamos.
Na
foto, o baterista Betinho, o contrabaixista Eduardo Camello, o guitarrista Taby
que era nosso cantor mais rock and roll e bem abaixo com os longos cabelos
repartidos ao meio, eu com minha velha guitarra Begger. Bem, os bons
observadores já terão percebido que nosso contrabaixista era canhoto. Será que
dá para perceber que banda era nossa principal influência?
Jorge
André Irion Jobim.
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